Cinco mitos sobre atenção plena
- Adriana Fernandes
- Atualizado: Segunda, 10 Junho 2024 11:57
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A crescente popularidade da atenção plena tem gerado uma série de concepções equivocadas. Este texto visa corrigir esses enganos, revelando a verdadeira essência da prática e seus benefícios para a saúde mental. Ao desmistificar os cinco equívocos mais comuns, buscamos oferecer uma compreensão mais clara e profunda dessa prática, capacitando as pessoas a integrá-la de maneira significativa em suas vidas.
Mito 1: A atenção plena é apenas meditação
Um dos equívocos mais difundidos é a ideia de que a atenção plena se restringe apenas à prática da meditação. No entanto, essa concepção é limitada e imprecisa. Embora a meditação seja uma ferramenta poderosa para cultivar a consciência plena, ela não é a única maneira de fazê-lo. A atenção plena pode ser incorporada em todas as atividades do dia a dia, desde caminhar e comer até respirar e ouvir, enfatizando a importância de estar plenamente presente em cada momento.
Na ACT, a atenção plena é utilizada para aumentar a flexibilidade psicológica, ajudando as pessoas a se conectarem com o momento presente de forma mais aberta e receptiva. Isso significa estar consciente e presente, não apenas durante momentos formais de meditação, mas também nas interações cotidianas, nas tarefas diárias e até mesmo nas experiências desafiadoras.
A prática da atenção plena na ACT inclui exercícios de desfusão cognitiva, onde aprendemos a observar nossos pensamentos sem sermos dominados por eles. Em vez de ver nossos pensamentos como verdades absolutas, podemos começar a reconhecê-los como eventos mentais transitórios. Por exemplo, ao caminhar, podemos nos concentrar nas sensações dos pés tocando o chão, na sensação do ar em nosso rosto e nos sons ao nosso redor. Essa prática pode nos ajudar a sair do "piloto automático" e a viver de forma mais consciente e intencional.
Mito 2: É uma prática exclusivamente budista
Outra ideia comum é a associação exclusiva da prática ao budismo. Embora suas raízes estejam profundamente entrelaçadas com essa tradição espiritual, ela transcende fronteiras religiosas e culturais. A prática é acessível a pessoas de todas as origens e crenças, sendo uma habilidade mental que pode ser desenvolvida por qualquer indivíduo, independentemente de suas convicções religiosas. Na ACT, a atenção plena é apresentada de maneira secular e científica, focada no desenvolvimento de habilidades para lidar com a experiência humana de forma mais eficaz.
A atenção plena é amplamente estudada e aplicada em contextos clínicos, educacionais e organizacionais, demonstrando seus benefícios em uma variedade de áreas. Estudos têm mostrado que a prática regular da atenção plena pode reduzir o estresse, melhorar a regulação emocional, aumentar a resiliência e promover um maior bem-estar geral. Na ACT, a atenção plena é utilizada para aumentar a consciência de nossos valores pessoais e para nos ajudar a agir de acordo com esses valores, mesmo quando enfrentamos desafios.
Mito 3: A atenção plena é sinônimo de relaxamento
Há uma percepção equivocada de que a prática da atenção plena está sempre associada a um estado de relaxamento. No entanto, a verdadeira essência da atenção plena vai além do relaxamento superficial. É possível praticá-la em momentos de estresse, ansiedade ou desconforto, cultivando a capacidade de permanecer consciente e presente diante das adversidades da vida. Na ACT, a atenção plena é uma ferramenta para aumentar a aceitação das experiências internas, permitindo que as pessoas convivam com o desconforto de forma mais serena e eficaz.
A prática da atenção plena nos ajuda a observar nossos pensamentos e emoções sem nos envolvermos demais com eles, o que pode ser particularmente útil em momentos de estresse ou ansiedade. Por exemplo, durante uma situação estressante, podemos usar a atenção plena para focar na respiração e observar as sensações físicas e os pensamentos que surgem, sem tentar mudá-los ou resistir a eles. Isso pode nos ajudar a manter a calma e a clareza, mesmo em meio ao caos.
Mito 4: É utilizada para controlar pensamentos
Há também a crença de que a prática da consciência plena visa controlar ou suprimir os pensamentos. No entanto, a verdade é que a atenção plena não busca eliminar os pensamentos, mas sim observá-los com aceitação e sem julgamento. Em vez de tentar controlar a mente, a prática nos convida a desenvolver uma relação mais compassiva e consciente com nossos pensamentos e emoções, permitindo que eles fluam livremente sem nos prendermos a eles. Na ACT, isso é conhecido como desfusão cognitiva, onde aprendemos a ver os pensamentos como eventos transitórios, não como verdades absolutas que devem guiar nossas ações.
A desfusão cognitiva é um processo central na ACT, onde trabalhamos para criar um espaço entre nós e nossos pensamentos, permitindo-nos escolher nossas ações com base em nossos valores, em vez de sermos controlados por pensamentos automáticos ou emoções intensas. Por exemplo, ao sentir ansiedade antes de uma apresentação, podemos notar os pensamentos ansiosos sem acreditar que eles são previsões precisas do futuro. Em vez disso, podemos nos lembrar de nossos valores, como a importância de compartilhar nosso conhecimento, e agir de acordo com esses valores, apesar dos pensamentos ansiosos.
Mito 5: Atenção plena é uma prática para se sentir bem
Por fim, existe a falsa ideia de que a prática de estar presente se limita a buscar constantemente sentir-se bem e feliz. No entanto, essa visão estreita não reflete a verdadeira essência da atenção plena. Ela nos convida a acolher todas as experiências humanas, tanto as agradáveis quanto as dolorosas. Nos ensina a abraçar todas as emoções com compaixão e aceitação, permitindo que fluam livremente em nossas vidas, independentemente de nos fazerem sentir bem ou não. Na ACT, a atenção plena é utilizada para ajudar as pessoas a viverem de acordo com seus valores, mesmo diante de emoções e pensamentos desafiadores.
A atenção plena na ACT nos encoraja a aceitar nossas experiências internas sem tentar mudá-las ou evitá-las
Isso não significa resignação, mas sim a disposição de estar presente com nossas experiências, por mais desconfortáveis que possam ser, enquanto tomamos ações alinhadas com nossos valores. Por exemplo, podemos nos sentir tristes ou frustrados, mas ainda assim escolher agir de forma compassiva e cuidadosa, porque isso é importante para nós. Essa abordagem nos ajuda a viver de maneira mais autêntica e plena, cultivando uma maior resiliência e bem-estar emocional.
Ao desmistificar esses cinco equívocos comuns sobre a atenção plena, esperamos ter oferecido uma visão mais clara e genuína dessa abordagem transformadora. A consciência plena é muito mais do que os estereótipos e equívocos que a envolvem. Ela é uma poderosa ferramenta para cultivar a consciência, a compaixão e a aceitação em nossas vidas, permitindo-nos viver de maneira mais plena, consciente e autêntica.
Que este texto inspire você a explorar essa prática de forma mais profunda e significativa, integrando seus ensinamentos em sua jornada de crescimento pessoal e bem-estar emocional. Lembre-se, na Terapia de Aceitação e Compromisso, a atenção plena é uma aliada fundamental para desenvolver uma vida alinhada com seus valores e para promover uma flexibilidade psicológica que nos capacita a enfrentar as adversidades com coragem e serenidade.
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