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Caio Weber
Atualizado: 14-10-23 às: 13:28

Andes de mais nada, precisamos entender que Paul Atreides não é o herói da história, se Duna 2 realmente quiser evitar os erros de cálculo do primeiro filme, o que não é nenhum exagero.Duna 2 é um dos grandes épicos de ficção científica do século XX e foi um desafio para adaptar a história ao cinema.

Ao contrário de Star Trek, não foi criado para uma tela pequena e com aqueles ‘princípios românticos’, mas é claro, desde que o protagonista seja um americano de queixo quadrado.

E ao contrário de Star Wars, não é totalmente baseado em histórias de aventura para meninos, embora tenha muitos paralelos em termos de povos do deserto e linhagens de famílias importantes, além daqueles combates corpo a corpo.

Duna 2 é um romance difícil de se adaptar para o cinema, porque usa as já manjadas práticas das cenas de ação de ficção científica e, é por isso mesmo que deve ser reformulado para a tela grande.

Ainda assim, qualquer adaptação da obra de Frank Herbert tem que lidar com o fato inelutável de que o que está passando na narrativa realmente não combina com a ideia de uma ’jornada do herói’, na verdade, é bem o contrário disso.

Tudo isso para dizer que Duna 2 precisa pegar o touro pelos chifres para que o público possa entender que o personagem de Timothée Chalamet não é um herói.

No universo de Duna, Paul Atreides é o cara mau da história

Timothee Chalamet em Duna 2. (Foto: Warner Broz)

Timothee Chalamet em Duna 2. (Foto: Warner Broz)

Isso é um pouco decepcionante, sabemos. Afinal, Duna tem tantos caras maus que daria dar uma volta inteira em Arrakis, e, esperamos que Duna 2 aumente esse número ainda mais.

Por mais má e torpe que a ‘Casa Harkonnen’ seja retratada na história, o que não é nenhum exagero, considerando que eles são praticamente abutres góticos, ainda temos todo o pragmatismo realmente destrutivo da ‘Casa Corrino’ que será liderada por Christopher Walken.

Duna 2 precisa mostrar que Paul Atreides (Timothée Chalamet), à sua maneira, é pelo menos tão monstruoso quanto todos eles.

A história de Duna nos prepara para ver Paul como um herói/messias, usando todas as homilias de um jovem misteriosamente importante que sofre uma tragédia familiar e treina  para vingar seus pais e punir seus tiranos (meio parecido com Luke Skywalker).

A questão é que isso tudo demonstra que não passa de um estratagema, uma série de estratégias habilmente implementadas para justificar outros fins, muito maiores e menos auspiciosos.

Assim como os Fremen são basicamente enganados pela longa ‘semeadura’ de propaganda religiosa das Bene Gesserit para se tornar uma ferramenta de vingança, os seguidores estão condicionados a ver Paul Atreides como um messias/herói.

Duna 2 pode concertar as coisas

Duna 2 tem a oportunidade de dar um passo onde a adaptação de Duna, filmada por David Lynch em 1984, tropeçou, e se comprometer com o fato narrativo de que Paul Atreides não é um messias que veio para libertar os Fremen da opressão do império e dos Harkonnen.

Em vez disso, Paul Atreides é um indivíduo que lança mão de muitos artifícios para manipular um povo inteiro [Fremen] e assim restaurar a influência, sua principalmente e de sua família para fins puramente políticos.

Duna 2 fala de dominação e vingança particular dos Atreides

No universo de Duna, O Messias-deus de Duna (Dune Messiah), que o diretor Denis Villeneuve já manifestou interesse em filmar, fica claro que a aproximação de Paul com os Fremen, visa aproveitar o poder destes, para sua própria sobrevivência e de sua mãe, além de poder, assim, organizar a vingança contra os Harkonnen.

Isso, na verdade resulta em um macrocosmo – o grande banho de sangue numa guerra santa que causa a morte de literalmente bilhões e a esterilização de planetas inteiros.

Graças ao poder respaldado pela especiaria ilimitada à que Paul tem acesso agora, ele está meio que apreensivo com o que sua conduta irá gerar, mas mesmo assim segue em frente com seus planos.

É difícil conciliar a ideia de Paul ser tudo menos um vilão quando você percebe que ele está preparado para destruir mundos inteiros para garantir o poder e a vingança de sua família.

A visão do caminho da humanidade em Duna 2

Timothee Chalamet em Duna 2. (Foto: Warner Broz)

Timothee Chalamet em Duna 2. (Foto: Warner Broz)

Duna 2 tem a oportunidade não apenas de mostrar as consequências da decisão de Paul em usar a proteção das Bene Gesserit, que nada mais são do o braço de propaganda de seu programa de vingança pessoal, mas também de mostrar que ele faz isso como um mortal cheio de defeitos ao invés de parecer um deus que controla o tempo.

Apesar de ser exatamente isso que os Fremen supõem que ele seja (e que o filme do David Lynch retratou).

O próprio Frank Herbert disse que o propósito de seus livros era “mostrar a criação de um messias e sua própria participação nisso.”

Isso é tanto verdade na narrativa, que os Fremen que foram treinados (pelas Bene Gesserit) para ver Paul como um messias, quanto fora dela (os seguidores que são treinados para assumirem a promoção de um ídolo/messias).

Então, dessa forma ele [Villeneuve] precisa se comprometer completamente em mostrar o que Paul se torna para não produzir mais um épico de ficção científica descartável.

Se Duna 2 quer ser fiel à profundidade total da obra original de Frank Herbert precisa deixar claro que no final da história, ele [Paul] está disposto a cometer um genocídio numa escala inconcebível.

Se aliar com seu adversário e tratar a morte de seu próprio filho como uma vítima aceitável da guerra, além de usar deliberadamente ferramentas de manipulação contra todo um povo, os Fremen.

É claro que Paul pensa que está cometendo esses atos a serviço do bem maior, mas que vilão não pensa assim?

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