Como a segunda guerra mundial transformou Hershey e Mars nos “reis” do Halloween
- Caio Webber
- Atualizado: Domingo, 14 Dezembro 2025 17:10
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É difícil imaginar o Halloween sem baldes cheios de Reese’s, punhados de M&Ms e barras clássicas da Hershey. Mas por trás dessa hegemonia açucarada existe um detalhe curioso e pouco divulgado: as duas maiores potências do doce americano só alcançaram esse status graças à Segunda Guerra Mundial.
Sim, foi a guerra, com seus racionamentos, fardos de suprimentos, missões militares e propaganda nacionalista, que impulsionou a fabricante de chocolates Hershey e sua concorrente Mars ao topo da cultura americana do açúcar.
Quando o açúcar virou munição
Em 1941, o açúcar foi o primeiro alimento a ser oficialmente racionado nos Estados Unidos. O motivo? A invasão japonesa das Filipinas cortou um dos maiores fornecedores americanos.
Navios cargueiros que transportavam açúcar de Hawai‘i foram transformados em embarcações militares. Com a oferta em queda, seria lógico imaginar que as fabricantes de chocolate veriam seus negócios minguar. Mas a história tomou outro rumo — graças a um contrato militar inusitado.
O chocolate “quase intragável” do Exército — o Ration D Bar
A Hershey foi convocada pelo governo em 1937 para criar um chocolate especial que fosse caloricamente denso, resistente ao calor, e — por ordem explícita — que não fosse gostoso.
A ideia era clara: evitar que soldados comessem tudo imediatamente. O resultado foi o famoso (ou infame) Ration D Bar, descrito por soldados como:
“Duro como um tijolo, capaz de quebrar dentes.”
Feito com farinha de aveia, cacau, leite em pó e vitaminas, o chocolate era mais uma ferramenta de sobrevivência do que um doce. Mesmo assim, acompanhou tropas no desembarque da Normandia e em praticamente todas as frentes do conflito.
O chocolate como símbolo do ‘American Way’
Para milhões de soldados, a guerra era uma realidade distante de casa. E manter o moral alto era uma missão tão crucial quanto qualquer estratégia militar.
Hershey percebeu isso rapidamente.
O chocolate — mesmo aquele industrial, simples e racionado — tornou-se um emblema. Representava:
- abundância;
- vida confortável;
- o sonho americano pós-Depressão.
Era um lembrete de por que lutar. Cenas icônicas surgiram dessa época, como soldados compartilhando barras com crianças em regiões devastadas pela guerra — imagens que ajudaram a solidificar o chocolate como símbolo de generosidade americana.
Mars: o nascimento dos M&Ms a serviço dos soldados
Enquanto Hershey dominava o chocolate militar, Mars contribuiu com outra arma valiosa: M&Ms. Criados em 1941, eles foram desenvolvidos exclusivamente para o Exército, que precisava de chocolate resistente ao calor tropical. Forrest Mars Sr. inspirou-se em doces revestidos usados na Guerra Civil Espanhola.
Daí surgiu a ideia:
“Chocolate que derrete na boca, não na mão.”
Perfeito para bolsos, mochilas e campos de batalha. Os M&Ms só chegaram ao público em 1947 — e quase instantaneamente se tornaram um fenômeno cultural.
Da guerra para o Halloween: o nascimento das gigantes do doce
Graças à guerra: Hershey manteve suas fábricas ativas, apesar do racionamento. Mars criou um produto militar que virou ícone pop.
As duas empresas se tornaram sinônimos de chocolate para uma geração inteira de veteranos e seus filhos. A narrativa patriótica do “docinho que alimentou o soldado americano” ajudou a fixar essas marcas na imaginação nacional.
Quando o pós-guerra trouxe prosperidade e crescimento populacional, as famílias americanas adotaram esses chocolates como parte da infância — e do Halloween.
E o resultado hoje?
A Hershey fabrica 373 milhões de barras por ano
E a Mars produz 400 milhões de M&Ms por dia enquanto a Reese’s e M&Ms disputam o pódio da guloseima mais popular do Halloween todos os anos.
As duas empresas investem milhões em publicidade sazonal e embalagens temáticas. Mas por trás da montanha de doces que toma conta das prateleiras em outubro existe uma verdade histórica surpreendente:
Hershey e Mars se tornaram reis do Halloween porque a guerra os transformou em símbolos de abundância — e de América.
